Muito já se sabe sobre o ciclo de vida das tartarugas marinhas, juvenis e adultas, mas pouco se conhece sobre os seus primeiros anos de vida. A tecnologia de rastreamento por satélite pode trazer uma luz, ou seja, mais informações, sobre o que se denominou como “os anos perdidos” das pequenas tartarugas. Em associação com a pesquisadora americana Katy Mansfiled da Universidade Atlântica da Florida, a Fundação Projeto Tamar realizou nos anos de 2013 e de 2014, duas pesquisas para conhecer para onde vão os filhotes das tartarugas cabeçuda e de pente que nascem na Bahia.
Pouco se sabe sobre a dispersão das tartaruguinhas no oceano Atlântico sul. Para descobrirmos mais informações, foram criados por alguns meses filhotes, até estarem suficientemente grandes para carregar o menor dos transmissores disponíveis. Essas tartaruguinhas com cerca de 30 centímetros de comprimento foram liberadas em alto mar, em frente das praias onde nasceram, em diferentes períodos durante a estação reprodutiva. Junto com elas foram soltos também derivadores de correntes que também foram rastreados. O objetivo era comparar as trajetórias das tartaruguinhas com os derivadores no sentido de se descobrir se elas possuíam uma natação ativa ou simplesmente derivavam levadas pelas correntes oceânicas.
Os resultados indicaram que as tartaruguinhas do início da temporada de nascimentos tendem a ir para o sul e no final da temporada seguem mais para o norte. Ao longo da temporada de nascimentos de filhotes há uma variação sazonal das correntes oceânicas que ajudam a espalhar os filhotes para o sul e para o norte. Os resultados indicam também que a natação das tartaruguinhas é ativa e elas são capazes de fazer correções para a manutenção de suas posições mantendo se em alto mar ao longo da plataforma continental.
Essa diversidade de rotas migratórias pode, em última instância levar filhotes a vários tipos de ambientes, o que pode proteger a população contra mudanças ambientais ou ameaças antropológicas, promovendo a resiliência da população.
Veja no mapa onde eles foram parar:
Essas foram as primeiras iniciativas de rastreamento de filhotinhos no Brasil e já foram bastante reveladoras, mas muitas questões nos restam ainda para desvendar completamente a história dos “anos perdidos”. Com o desenvolvimento de novas tecnologias é esperado que os transmissores possam ficar ainda menores, e mais baratos, para poder ser repetido o experimento com ainda mais outros filhotes. Somente assim na medida em que mais informações forem se acumulando sobre o assunto, poderemos formular modelos de comportamento para explicar a dispersão dos filhotinhos na costa brasileira.