pagina inicial
Tartarugas Marinhas
Visite o Tamar
O que fazemos
Onde estamos
Mais informações

Pesquisa aplicada

As tartarugas marinhas são conhecidas pela grande capacidade migratória, com um ciclo de vida complexo e de longa duração. Durante a sua vida utilizam diversas áreas nos oceanos. É fácil encontrar as fêmeas quando estão nas praias depositando seus ninhos, mas quando partem de suas áreas de desova, vão para locais muito distantes, centenas ou milhares de quilômetros de distância. Seu comportamento é ainda um mistério para pesquisadores no mundo inteiro. A maioria do conhecimento até agora foi gerado através das fêmeas adultas nas praias, mas as outras fases de vida da tartaruga, como filhotes ou juvenis se sabe muito pouco. Sobre os machos adultos, que nunca saem da água, há ainda mais perguntas que respostas.

Para estudar as tartarugas marinhas é necessário identificá-las. Todos os animais que os pesquisadores encontram recebem uma marca metálica nas nadadeiras dianteiras para identificação (a tartaruga-de-couro é marcada nas nadadeiras traseiras). Nesta marca há um número de identificação e o endereço de correspondência com a Fundação Projeto Tamar (FPT). Através desse nosso programa de marcação e captura, realizado desde 1982, é possível o estudo de seu deslocamento e de hábitos comportamentais, além de dados sobre taxas de crescimento e tempo de residência em áreas de alimentação. Desde a sua criação, o Projeto Tamar investe em recursos humanos e materiais para adquirir o maior conhecimento possível sobre a biologia e ecologia das tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil. Prioriza-se pesquisas aplicadas que resolvam aspectos práticos para a conservação desses animais e que ao mesmo tempo envolvam as comunidades costeiras nesse processo através da educação ambiental.

A união do conhecimento científico juntamente com a vivência dos pescadores, que já conheciam as tartarugas marinhas lá na década de 80, caminhou lado a lado ao longo dos anos de atuação do Projeto Tamar a favor da conservação marinha. As pessoas que fazem o trabalho matinal de monitorar as praias são carinhosamente chamadas de “tartarugueiros”. Ao longo dos anos, muitas técnicas locais foram compartilhadas entre as equipes, pescadores ensinaram os pesquisadores a localizar os ovos nos ninhos e outras características da biologia das tartarugas, técnicos ensinaram desde o alfabeto a protocolos de identificação de espécie e coleta de material. Neste cenário de trocas que a sustentabilidade oceânica pôde surgir.

Estabelecer relações com as comunidades litorâneas e retornar para elas o conhecimento que é gerado, sedimentam valores socioambientais onde não só as tartarugas marinhas se beneficiam, mas também os moradores locais que tiram seu sustento do ambiente costeiro. Este tem sido um dos eixos de atuação da FPT. A aplicabilidade do conhecimento gerado na pesquisa realizada durante o monitoramento das populações em prol da conservação é benéfica e tem resultados positivos alcançados ao longo das últimas décadas. Houve uma recuperação das populações, mas, mesmo assim, não temos garantias de que as tartarugas estejam livres da extinção, pois ainda há ameaças reais que pairam na questão da conservação das tartarugas marinhas e dos oceanos. Nestas mesmas décadas, o litoral brasileiro se transformou, a indústria da pesca cresceu e se modernizou, e muitas praias antes desertas estão urbanizadas. Até mesmo os fatores ambientais não são mais os mesmos considerando as mudanças climáticas e seus efeitos nos oceanos.

Com esta visão da pesquisa aplicada à conservação, as primeiras ações da FPT ocorreram nas áreas de reprodução. Na década de 80, eram as fêmeas e os seus ovos que estavam sob ameaça. Através do monitoramento e proteção dos ninhos nas praias de desova que se passou a conhecer mais sobre elas. A partir da contagem do número de ninhos nas praias a cada temporada reprodutiva que podemos saber se as populações estão crescendo ou diminuindo. Neste breve período que saem da água para depositarem seus ninhos é a oportunidade que os pesquisadores têm para coletar seus dados biológicos e assim aprender sobre sua biologia. Atualmente, com o avanço das pesquisas genéticas e de isótopos, muito se pôde saber sobre a vida de uma tartaruga a partir de um fragmento de seu tecido.

As fêmeas sobem à praia geralmente a noite. Nas praias continentais isto ocorre entre os meses de setembro a março, já nas ilhas oceânicas, de janeiro a junho. Cada trecho de praia é percorrido logo no início do dia por equipe treinada para identificar os ninhos. Assim, todas as atividades da noite anterior são registradas. Como as tartarugas são animais de ciclo longo de vida, o monitoramento de suas atividades só trará resultados se for feito por grandes períodos de observação. Uma tartaruga atinge sua maturidade entre 15 e 30 anos de idade. Ou seja, com 4 décadas de esforço de proteção, monitoramento e pesquisa temos uma ou duas gerações de tartarugas que já está chegando sua fase adulta.

Ao longo destes 40 anos, à medida que a ameaça da coleta dos ovos passou a diminuir, os ninhos puderam permanecer nas praias. Atualmente, quase todos os ninhos monitorados pela FPT permanecem em seus locais originais de postura. Neste mesmo período, em muitas praias houve um processo acelerado de urbanização que trouxe uma nova ameaça às tartarugas marinhas, a fotopoluição. Onde antes haviam praias desertas hoje existem condomínios, hotéis e até mesmo portos de grande porte. A ocupação costeira junto com a pesca são hoje as maiores ameaças que as populações de tartarugas marinhas sofrem no Brasil.

Na fase de vida em que as tartarugas passam no mar, as pesquisas estão voltadas principalmente para entender as causas que levam uma tartaruga marinha a ser capturada em uma determinada modalidade de pesca e buscar formas para reduzir essa captura. Nesse sentido, o monitoramento das capturas incidentais é feito através do estabelecimento de parcerias com pescadores locais ou instituições parceiras cujo o monitoramento da atividade pesqueira faça parte de suas atividades de trabalho. O monitoramento de longo prazo das capturas de tartarugas marinhas em determinadas tipos de pesca têm revelado informações importantes sobre tendências populacionais, tempo de residência na área, fase de vida mais impactada pela captura incidental, e identificação de áreas de alimentação.  

Em alguns locais, as condições de estudo das tartarugas nesta fase de vida são excepcionais, como por exemplo na ilha de Fernando de Noronha, onde a FPT desenvolve há anos o programa de marcação e recaptura, através de mergulho livre ou autônomo. Através dessa atividade, foi possível conhecer a taxa de crescimento das tartarugas, aspectos relacionados ao comportamento e interação com outras espécies, fidelidade ao sítio de alimentação escolhido, rotas de migração, entre outros.

Estudar tartarugas no mar normalmente é trabalhoso e custoso, pois requer um monitoramento que é quase todo realizado no mar, muitas vezes junto às atividades pesqueiras, com os técnicos embarcados (observadores de bordo). Mais uma vez é possível transferir conhecimento entre pesquisadores e pescadores, que são orientados a salvar as tartarugas que ficam presas nas redes de espera, cercos, currais e outras petrechos de pesca.

Petrobras