16/06/2017 - Pioneiro biólogo, herpetólogo, ecologista e escritor da Natureza começou nos anos 40 a pesquisar as tartarugas marinhas. Escreveu dentre outras obras 'So excellent a fishe'. ↓
Foto: Dr. Archie Carr e os balões meteorológicos (c) Sea Turtle Conservancy
A cada ano, no dia 16 de junho (aniversário de Archie Carr), é celebrado o Dia Internacional da Tartaruga Marinha. O legado de Archie Carr vive através dos seus escritos, de seus estudantes e dos estudantes destes, pois Archie tem várias gerações de “filhotes” acadêmicos, e das organizações que ele ajudou a fundar.
O livro “So excellent a fishe”, publicado em 1967, abordou assuntos que meio século depois continuam atuais ou já mostraram importantes avanços. A aplicação de novas tecnologias à conservação das tartarugas marinhas possibilitou diversos progressos no conhecimento e muitas comprovações de que Archie Carr estava certo.
Navegação
A navegação das tartarugas marinhas sempre intrigou Archie Carr. Como as tartarugas se orientam para chegar em determinadas praias para se reproduzirem? Ele denominou isto de “o caminho para a ilha meta”, em referência à migração das tartarugas-verdes (Chelonia mydas) rumo à ilha Ascenção, que fica no meio do oceano Atlântico. Atualmente, centenas de transmissores via satélite têm sido colocados em tartarugas marinhas, o que tem permitido saber informações surpreendentes sobre a capacidade de navegação desses animais, mas foi Carr que na década de 60, com seu espírito criativo, quem primeiro tentou realizar um experimento para seguir estes animais pelos oceanos utilizando balões metereológicos e radiotransmissores amarrados aos cascos.
Volta ao local de nascimento
O uso de sequências de DNA como marcadores genéticos tem demonstrado o que Archie Carr não tinha conseguido provar naquela época, que as tartarugas voltam para a mesma praia onde nasceram (chamado de filopatría natal). Saiba mais sobre o longo ciclo de vida das tartarugas marinhas.
Mistério do “Ano Perdido”
Uma das grandes buscas de Archie Carr foi identificar para onde vão as tartaruguinhas depois que nascem. O “mistério do ano perdido” até hoje é pesquisado. O uso de DNA mitocondrial tem permitido confirmar com as tartarugas-cabeçudas (Caretta caretta) uma das hipóteses de Archie Carr, que entendia que a maioria das tartarugas juvenis presentes nas águas dos Açores era proveniente da costa do sudeste dos Estados Unidos. Outra descoberta foi que estas tartarugas passavam de 7 a 10 anos ao redor dos Açores e portanto o “ano perdido” na realidade é de fato uma década.
Archie desenvolveu dois métodos consagrados para estudos das populações de tartarugas marinhas que permanecem até hoje. Através de marcas metálicas colocadas nas nadadeiras sabe-se para onde elas vão, o que fazem e quantas são, e com a contagem de rastros de tartarugas nas praias de desova, os pesquisadores registram e protegem os ninhos. Os dois métodos ainda são utilizados para monitorar a abundância das populações em muitas áreas de reprodução desses animais no mundo.
As tartarugas marinhas passam somente 1 % da sua vida nas praias, por isto, em seu livro, Archie Carr ressalta a necessidade de se estudar esses animais nas áreas de alimentação – embora seja muito trabalhoso – para que se possa conhecer quais praias de desova são as fontes das agregações de tartarugas.
Ao longo da vida de Archie Carr, o tamanho das populações de tartarugas marinhas era reduzido e em declínio. Portanto, os conservacionistas naquele momento consideravam que ter mais tartarugas já era um bom resultado, sem se preocuparem com o limite superior. Embora muitos queiram saber até hoje quantas tartarugas devem haver para tirá-las da categoria de ameaçadas, ainda não existe uma boa resposta para esta pergunta. Mas temos algumas certezas, como por exemplo, já é comprovado que estas são espécies-chave que cumprem papéis vitais na estrutura e função dos ecossistemas. As tartarugas poderem cumprir seu papel ecológico proporciona oceanos mais saudáveis para o benefício de todas as espécies, incluindo os seres humanos.
As tartarugas marinhas enfrentam muitas ameaças atualmente, populações humanas em contínuo crescimento, especialmente em áreas costeiras; degradação de habitats pela pesca e poluição; perda de áreas de desova pelo desenvolvimento costeiro e aumento do nível do mar; captura incidental em pescarias. É possível que todas estas ameaças combinadas, se nada for feito, acabem por prevalecer sobre as tartarugas, mas a boa notícia é que por enquanto o que Archie Carr temia - um oceano desprovido de tartarugas marinhas - não chegou a acontecer.
"O Projeto Tamar, que já fez 35 anos, também tirou grande parte de sua inspiração na vida e obra deste pesquisador criativo, inovador e visionário", diz a coordenadora de pesquisa e conservação do Tamar, oceanógrafa Neca Marcovaldi.
Texto baseado no prefácio da edição de 2011 do livro do Dr. Archie Carr, 'So excellent a fishe', pela pesquisadora Karen A. Bjorndal, que foi sua aluna, hoje é diretora do Archie Carr Center for Sea Turtle Research e uma das mais importantes pesquisadoras das tartarugas marinhas.
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