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Tartaruga-de-pente no Brasil: estudo com quase 30 anos de dados do Projeto TAMAR mostra sinais de recuperação — e a importância de manter a proteção

27/11/2025 - Por Dr. Armando Barsante ↓

Um novo artigo científico liderado por pesquisadores da Fundação Projeto Tamar, do Centro TAMAR/ICMBio e da Florida State University acaba de ser publicado na revista Global Ecology and Conservation, trazendo boas notícias — e também alertas — sobre a situação da tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) nas principais áreas de desova do Brasil.

O estudo analisou 29 temporadas de monitoramento na região Bahia/Sergipe (BA/SE), de 1991 a 2019, e 17 temporadas na costa sul do Rio Grande do Norte (RN), de 2003 a 2019, usando série de dados de longo prazo coletados pelo Projeto Tamar. Ao longo de quase três décadas, o número de ninhos de tartaruga-de-pente aumentou cerca de 7,8 vezes em BA/SE, saindo de pouco mais de 200 para mais de 1.500 ninhos por temporada, enquanto em RN o crescimento foi de aproximadamente 1,5 vez, consolidando a região como uma das áreas de maior densidade de ninhos da espécie no Atlântico Sul. O aumento em BA/SE fica mais evidente a partir da metade da década de 1990, em consonância com o tempo de maturação estimado para a espécie e com as ações de proteção às tartarugas marinhas iniciadas no Brasil nos anos 1980.

Esse avanço só foi possível graças a um esquema de monitoramento robusto. No entanto, quando os pesquisadores foram além da contagem de ninhos e estimaram quantas fêmeas efetivamente estavam desovando a cada ano, o quadro se mostrou mais cauteloso. Em BA/SE, houve um forte crescimento no número de fêmeas até o ano de  2010, seguido de um aparente patamar estável nos anos mais recentes. Em RN, o aumento foi mais discreto, e as amplas faixas de incerteza nos modelos não indicam uma tendência claramente crescente ou decrescente. Na prática, isso significa que ver mais ninhos nem sempre quer dizer que há muito mais fêmeas: em alguns anos, as mesmas tartarugas podem fazer mais posturas ou mudar o intervalo entre temporadas reprodutivas, o que pode mascarar a verdadeira variação do número de animais na população.

A tartaruga-de-pente é classificada como Criticamente Em Perigo na lista global da IUCN e, no Brasil, passou recentemente de Criticamente Em Perigo para Em Perigo, em reconhecimento aos avanços de conservação — muitos deles resultado direto do trabalho integrado de Fundação Projeto Tamar, Centro TAMAR/ICMBio e comunidades costeiras parceiras em todo o país. O novo estudo confirma que as ações históricas de proteção nas praias funcionaram e ajudaram a recuperar a atividade de desova nas áreas avaliadas. Ao mesmo tempo, deixa claro que não é hora de relaxar: captura acidental em pescarias, desenvolvimento costeiro, poluição luminosa, predação de ninhos, mudanças climáticas e, no caso de BA/SE, a alta taxa de hibridização com outras espécies continuam pressionando a população.

Os autores destacam que o sucesso do estudo reflete a união de esforços de diferentes instituições brasileiras e internacionais, que há décadas compartilham dados, infraestrutura e conhecimento em prol das tartarugas marinhas. Também reforçam que monitoramentos de longo prazo — marca registrada da Fundação Projeto TAMAR — são essenciais para detectar mudanças reais nas populações, orientar políticas públicas, aperfeiçoar a rede de áreas protegidas e apoiar ações com as comunidades locais.

Como próximos passos, o trabalho recomenda ampliar as análises integrando dados obtidos nas praias com informações coletadas em áreas de alimentação e migração, incorporar novas áreas de desova identificadas recentemente no Nordeste e investir em estudos genéticos e de telemetria para entender melhor as rotas migratórias e a conectividade entre diferentes áreas de uso das tartarugas. Assim, o Brasil poderá fortalecer ainda mais sua contribuição para a conservação da tartaruga-de-pente no Atlântico, garantindo que as futuras gerações continuem encontrando esses animais emblemáticos nas nossas praias.

O artigo completo, intitulado Long-term trends of hawksbill turtle nest numbers and female abundance across key Brazilian nesting areas, está disponível em acesso aberto na revista Global Ecology and Conservation (doi:10.1016/j.gecco.2025.e03941). 


Armando J. B. Santos
Ph.D. in Biological Oceanography, Florida State University
Marine Turtle Research, Ecology, and Conservation
Room 3035 EOAS, 1011 Academic Way, Tallahassee, FL 32304
Website: armandobarsante.github.io
Google Scholarhttps://g.co/kgs/ytHXaEB
CRBio: 107.293/05-D

Tartaruga Tartaruga-de-pente ou Tartaruga-legítima

FUNDAÇÃO PROJETO TAMAR ARACAJU – OCEANÁRIO - SE

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