24/02/2012 - Nos últimos anos, as equipes de campo têm observado crescente número de casos de possível hibridismo entre tartarugas marinhas abordadas nas praias de Sergipe. ↓
Nos últimos anos, a cada temporada reprodutiva, as equipes de campo do Tamar/ICMBio têm observado crescente número de casos de possível hibridismo (características morfológicas de duas espécies diferentes) entre tartarugas marinhas abordadas nas praias de Sergipe, para marcação e biometria, quando as fêmeas sobem à praia para desovar.
Para confirmar as suspeitas e ampliar o conhecimento sobre a questão, o Tamar aprofunda suas pesquisas, por meio de estudos genéticos, análises de comportamento, técnicas modernas de análise de alimentação, através de isótopos estáveis, e monitoramento por satélite de animais possivelmente híbridos. O Projeto trabalha com fêmeas e filhotes e conta com a colaboração da UERJ, UFMG e Centro Archie Carr (Universidade da Flórida).
Segundo o coordenador regional do Tamar, engenheiro de pesca Cesar Coelho, o litoral de Sergipe é o principal sítio de desova da tartaruga oliva (Lepidochelys olivacea), uma das menores tartarugas marinhas do mundo. A segunda espécie com maior número de ocorrências é a tartaruga cabeçuda (Caretta caretta), que também desova na Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Cada espécie possui características comportamentais e morfológicas distintas. Por exemplo: as olivas são pequenas e precisam garantir a compactação da areia com um movimento muito característico, batendo as laterais da carapaça para camuflar e proteger os ovos. Pode-se dizer que dançam para proteger os futuros filhotes.
Se não for oliva e dançar, é possível que seja um animal híbrido. As análises laboratoriais mais recentes comprovaram as observações registradas em campo: cerca de 30% das cabeçudas amostradas em Sergipe traziam herança genética de olivas. Ou seja: as fêmeas de olivas acasalaram com os machos de cabeçuda e a habilidade da dança foi herdada pelas filhas híbridas.
Em Sergipe, cerca de 80% das desovas registradas são da tartaruga oliva e apenas 10% são da cabeçuda - as outras espécies compõem o restante. Muito provavelmente esta mesma proporção ocorre também na região costeira próxima às praias de desovas. Mais fêmeas de olivas estariam disponíveis para o acasalamento.
Mas esta hipótese ainda não é suficiente para explicar tal fenômeno, já que outras praias abrigam proporções semelhantes de outras espécies. “De fato, pouco sabemos sobre as causas e implicações do hibridismo e seu impacto sobre as populações e a diversidade genética das tartarugas marinhas”, completa o coordenador do Tamar. “Por isso estamos buscando ampliar o nosso conhecimento”.
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