19/11/2016 - Troca de conhecimento e parceria pela conservação marinha. Leia mais. ↓
Em Ubatuba, São Paulo, os pesquisadores encontraram uma forma de avaliar o crescimento da população de tartaruga-verde (Chelonia mydas). Desde 1994, o Projeto TAMAR registra em parceria com os pescadores sistematicamente as capturas incidentais de tartarugas em cercos flutuantes, uma modalidade de pesca artesanal tradicional na região. A preocupação inicial era compreender o funcionamento desta pescaria, verificar se havia mortalidade das tartarugas e buscar soluções para protegê-las. Análises de dados coletados até 2016 confirmaram o aumento do número de tartarugas juvenis que frequentam esta importante área de alimentação para a espécie.
Além das informações sobre as tartarugas, o monitoramento da pesca de cercos flutuantes registra também o tempo que cada cerco fica no mar. Esta é uma informação importante, diz a coordenadora do TAMAR Ubatuba, Berenice Gomes, pois quanto mais tempo fica no mar, mais tartarugas pode capturar. “Então, de forma semelhante como acontece no programa de captura e recaptura nas áreas de reprodução, o TAMAR vem comparando o número de tartarugas-verdes juvenis capturadas em cercos, ano após ano, considerando o tempo que fica no mar pescando”, conta.
No início do monitoramento, em média, uma tartaruga era capturada a cada 5 dias de pesca. Passados 22 anos de monitoramento, hoje, os cercos capturam, em média, uma tartaruga a cada dois dias de pescaria. Com o passar do tempo, verificou-se que poucas tartarugas morrem nos cercos, e os animais capturados são soltos de volta ao mar, vivos.
Uma análise como esta só é possível, pois os cercos flutuantes não mudam de lugar, destaca a coordenadora do TAMAR Ubatuba, “são os mesmos locais tradicionais de pesca há mais de 50 anos, não mudam o formato nem o tamanho das redes e têm mínima taxa de mortalidade para as tartarugas. Outras pescarias mais impactantes, e que alternam os locais de pesca, dificilmente poderiam resultar em análises como esta”. As análises de tendência estão sendo finalizadas com apoio do pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande-FURG, Leandro Bugoni.
Outra condição fundamental para o bom resultado das análises é a relação de confiança mútua entre os pesquisadores do TAMAR e os pescadores que colaboram voluntariamente comunicando as capturas incidentais de tartarugas e compartilhando informações sobre a rotina de pesca de cada um.
O trabalho de conservação e pesquisa direcionado à interação das tartarugas marinhas com a pesca em Ubatuba foi iniciado em 1990 com um levantamento que identificou as diversas modalidades de pesca que capturam tartarugas incidentalmente no município. Pouco a pouco, foi estabelecida uma parceria com os pescadores artesanais no município que voluntariamente passaram a informar o TAMAR sobre as capturas de tartarugas e sobre o funcionamento das pescarias. A partir deste esforço conjunto, já foram devolvidas vivas e saudáveis ao mar mais de 10.400 tartarugas capturadas incidentalmente na pesca nestes 26 anos de existência do TAMAR Ubatuba.
O Projeto TAMAR começou nos anos 80 a proteger as tartarugas marinhas no Brasil. Com o patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental, hoje o projeto é uma soma de esforços entre a Fundação Pró-TAMAR e o Centro Tamar/ICMBio. Trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Protege cerca de 1.100 quilômetros de praias e está presente em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina
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