23/12/2016 - Comparação de dados reprodutivos. Leia mais. ↓
Uma análise do trabalho do TAMAR está em curso desde 2011 para entender o processo de hibridismo entre as espécies cabeçuda + de pente (Caretta caretta + Eretmochelys imbricata), e cabeçuda + oliva (Caretta caretta + Lepidochelys olivacea). Hibridismo em tartarugas marinhas na costa brasileira: uma análise genética, ecológica e comportamental é a tese de doutorado de Luciano Soares, no Archie Carr Center, com orientação da Dra. Karen Bjorndal e o Dr. Alan Bolten do departamento de biologia da Universidade da Flórida, e com a colaboração da Dra. Eugenia Naro-Maciel do College of Staten Island.
No primeiro artigo de uma série, “Comparison of reproductive output of hybrid sea turtles and parental species” , os pesquisadores avaliam dados reprodutivos de híbridos, comparando com resultados obtidos com animais puros em um mesmo local, no litoral norte da Bahia, importante área de reprodução da tartaruga-cabeçuda e da tartaruga-de-pente. Foram avaliados parâmetros como tamanho da desova, produção de filhotes, sucesso de nascimento, período de incubação, dentre outros. A coleta de dados e amostras foi feita de setembro a março de 1999 a 2012, por pesquisadores do Projeto TAMAR que monitoram as praias e registram fêmeas e desovas.
O TAMAR caracterizou e confirmou a existência das primeiras tartarugas marinhas híbridas (Caretta caretta + Eretmochelys imbricata) no Brasil, em 1990. Animais híbridos são aqueles nascidos de cruzamento de duas espécies diferentes. “Normalmente são animais inférteis, mas quando há uma grande proximidade entre eles, como por exemplo algumas espécies de tartaruga marinha, esse cruzamento pode gerar híbridos férteis”, conta a coordenadora de pesquisa e conservação do TAMAR, Neca Marcovaldi. O hibridismo em tartarugas marinhas no Brasil vem sendo relatado com alta incidência. Estudos genéticos mostram que mais de 40% das tartarugas identificadas morfologicamente como tartaruga-de-pente são híbridos desta com a tartaruga-cabeçuda.
As conclusões deste primeiro artigo, publicado em novembro/2016 no periódico científico Marine Biology, indicam que não há diferença destes parâmetros entre os grupos estudados, ou seja, os híbridos não parecem estar em vantagem ou em desvantagem reprodutiva em relação às espécies puras. Estes resultados mostram que os híbridos podem persistir nesta região e ajudam a entender as consequências da hibridização, informações de grande importância para a conservação das tartarugas marinhas. Entretanto, outras pesquisas sobre as taxas de sobrevivência dos híbridos em diferentes estágios de vida, bem como as taxas de crescimento e seus papéis ecológicos, ainda serão fundamentais para prever o destino das tartarugas híbridas.
Ainda será importante saber que populações de tartarugas marinhas que desovam em áreas com ocorrência de mais de uma espécie sejam pesquisadas quanto à hibridização com os marcadores genéticos apropriados, o que permitirá novos relatos em outras áreas ou a confirmação de que esse fenômeno é mais evidente no Brasil.
As pesquisas até o momento mostram que o fenômeno de hibridização observado no Brasil é recente, com cerca de 30 anos, o que coincide com o declínio destas populações no litoral brasileiro. Na década de 1980, quando o TAMAR iniciou suas atividades, o número de ninhos de tartaruga-de-pente e de tartaruga-cabeçuda era baixo, e é possível que o número muito pequeno de indivíduos destas espécies e a sobreposição espacial e temporal de uso dessa área por duas espécies diferentes, tenha contribuído com o processo de hibridização.
O Projeto TAMAR começou nos anos 80 a proteger as tartarugas marinhas no Brasil. Com o patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental, hoje o projeto é uma soma de esforços entre a Fundação Pró-TAMAR e o Centro Tamar/ICMBio. Trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Protege cerca de 1.100 quilômetros de praias e está presente em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina
Saiba mais sobre tartarugas marinhas híbridas:
Tartarugas marinhas híbridas da costa brasileira – Vídeo produzido com o objetivo de unir arte e ciência para divulgar de forma acessível a questão das tartarugas marinhas híbridas na costa do Brasil. Projeto desenvolvido no Laboratório de Ecologia Molecular Marinha, Instituto de Oceanografia, Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Apoio: The Rufford Foundation, Projeto TAMAR, Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental.
Equipe de Pesquisa discute prioridades de ações da Fundação Projeto Tamar
Projeto TAMAR: Manejo Adaptativo na Conservação das Tartarugas Marinhas no Brasil
No mês das crianças, que tal se aproximar das tartarugas marinhas?
Celebração da Oceanografia: Homenagem e Inovação em Prol da Conservação Marinha