19/10/2018 - Cortejo, Fanfarra, tartarugas indo para o mar, palestras e apresentações musicais celebraram resultados para a conservação marinha. Leia mais ↓
O evento De Sol a Sol – O Ciclo da Vida comemorou nos dias 12 e 13 de outubro o início da temporada de reprodução das tartarugas marinhas e a despedida das baleias jubarte e seus filhotes do litoral norte da Bahia. Uma realização do Projeto TAMAR e do Projeto Baleia Jubarte, ambos patrocinados pela Petrobras e integrantes da Rede Biomar de Projetos de Conservação da Biodiversidade Marinha, o acontecimento contagiou a vila de pescadores que há 38 é parceira na proteção às tartarugas e baleias.
Ao som da canção Superfantástico, a Fanfarra da Praia do Forte abriu o cortejo De Sol a Sol, acompanhada pelas crianças, pelos tartarugueiros do Projeto TAMAR e pelo público presente na vila na sexta-feira (12). O destino era o Coreto da Vila, onde o Coral do Mar se apresentou sob a regência de Luciano Calazans. Formado por meninos e meninas da comunidade, que desde cedo aprendem a importância da conservação e da proteção do meio ambiente, o Coral do Mar deu um show de alegria, simpatia e musicalidade, e acabou por contagiar a todos os presentes. No cortejo de volta, todos seguiram em direção à praia, para acompanhar tartarugas indo para o mar. Com a maré alta, o espaço de areia ficou pequeno para o público, que observava curioso os animais sumirem nas ondas, para voltar 30 anos depois e fazer os seus ninhos.
Quem conseguiu, descansou para chegar no começo da noite e assistir a palestra do biólogo do Projeto TAMAR, Paulo Lara, sobre os resultados mais recentes do trabalho de conservação das tartarugas marinhas no Brasil após quase quatro décadas de esforços em 1.100 quilômetros do nosso litoral e ilhas oceânicas. Quem não conseguiu descansar e levou direto, também estava presente para saber que na temporada de reprodução encerrada em março de 2018, foram protegidos 30 mil ninhos de tartarugas marinhas e 2 milhões de filhotes devolvidos ao mar.
O Projeto TAMAR já devolveu ao mar mais de 35 milhões de tartaruguinhas. Os resultados compartilhados com o público deram um panorama da produção científica dos últimos anos, utilizando técnicas de telemetria para rastrear tartarugonas e tartaruguinhas, buscando respostas sobre o impacto das mudanças climáticas e continuando com o monitoramento e as coletas para alimentar um sistema de informações com mais de 35 anos de dados sistematizados e padronizados. Já são mais de 640 publicações científicas sobre conservação de tartarugas marinhas, diversos convênios e parcerias científicas com universidades no Brasil e em outros países.
Foram muitos motivos para celebrar, mas também momento de alertar sobre a mortalidade de tartarugas pela captura incidental na pesca, a maior das ameaças às populações das cinco espécies que existem no país. Redes de pesca, anzóis, degradação de áreas de desova, fotopoluição e a poluição dos oceanos, além das mudanças climáticas, são os principais inimigos das tartarugas e podem interromper a chance de recuperação das cinco espécies que ocorrem no nosso país.
Tartarugas e Jubartes
O encontro natural dos ciclos de vida dessas duas espécies faz com que passem a conviver harmoniosamente em um mesmo lugar. Houve um tempo em que as populações de tartarugas e baleias diminuíram muito, e esse encontro quase deixou de acontecer. "O mundo mudou, e graças aos esforços dos Projetos TAMAR e Baleia Jubarte, e a todos os visitantes e apoiadores que acreditam no trabalho, hoje sabemos que baleias e tartarugas continuarão a se encontrar aqui ainda durante muito tempo. E nós estamos comemorando isso", afirma Guy Marcovaldi, fundador e coordenador nacional do TAMAR. Os Projetos conseguiram trabalhar pela recuperação de ambas populações e hoje começam a colher os frutos de décadas de proteção e pesquisa científica.
A palestra do Projeto Baleia Jubarte aconteceu no sábado (13) com a presença no palco do Coordenador de Desenvolvimento Institucional do Instituto Baleia Jubarte, fundador do Projeto Baleia Franca e representante do Brasil junto à Comissão Internacional da Baleia durante duas décadas, José Truda Palazzo Jr. e do biólogo do Projeto Baleia Jubarte, Sérgio Cipolotti, que lembraram que o Brasil já foi um país baleeiro até a década de 80, quando uma campanha de mobilização popular levou ao fechamento da última estação baleeira japonesa no país, que operava na Paraíba, e à aprovação da Lei Federal 7643/87 que determinou a proteção definitiva das baleias e golfinhos em águas brasileiras contra a caça e o molestamento intencional. De lá para cá, conquistas importantes na conservaçaõ das jubartes, como o considerável aumento populacional dessa espécie, que em 2014 foi retirada da Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, e a Declaração de Florianópolis. A Declaração de Florianópolis foi aprovada em setembro de 2018, afirmando que a caça comercial de baleias não é mais uma atividade necessária no século XXI e determinando que a Comissão Internacional da Baleia (CIB) redirecione esforços e recursos para mais atividades voltadas à conservação.
Duas noites de arte e cultura pela conservação das tartarugas e baleias
O Movimento Tamarear não poderia faltar em um evento como este, reunindo em duas noites, após as palestras na sexta e no sábado, amigos das tartarugas e das jubartes para cantar. Luciano Calazans, Yacoce Simões, Allan Amaral, Maviael Melo, Marcos Clement, Jô Estrada, Jazão, Edno Sá, Marcos Rossi, Jorge Vercillo e Vini Vercillo, Ana Mametto subiram no palco na sexta e fizeram todo mundo dançar ou se emocionar. Cordel especialmente feito por Maviael contou uma conversa entre uma tartaruga marinha e uma baleia jubarte. Michaela Harrison que só ia cantar no sábado deu uma canja e deixou a todos de boca aberta. Jô estrada e Marcos Clement deram uma aula de rock'n'roll tocando Raul, Lennon e McCartney. Teve Rap da tartaruga e da baleia com Jazão, Marcos Rossi, Pop com Edno Sá. Teve pai e filho, Jorge e Vini Vercillo, juntando seus talentos em uma apresentação que só se vê no TAMAR. E para fechar a noite com gosto de quero mais, todo o Axé de Ana Mametto, que botou todo mundo para dançar.
E não acabou por aí, a noite de sábado também teve músicas do Movimento Tamarear, e Roberto Carlos mais uma vez, na voz de Marcos Rossi, biologo, educador ambiental, professor, que cantou a primeira música que falou de conservação ambiental no Brasil, As Baleias (1981). Alexandre Leão, Jô Estrada, Allan Amaral, Luciano Calazans, Marcos Clement, Maviael Melo, Ana Mametto, Yacoce Simões, Duda Diamba, Michaela Harisson, Ricardo Chaves finalizaram essa celebração com apresentações especialíssimas, como um mini festival. Cada um colocou sua arte a favor da conservação, pela proteção às tartarugas, baleias e todos os bichos do mar! No final das contas, mais de 2.000 pessoas participaram do evento nesses dois dias de ciência, conservação, arte e cultura pelas tartarugas marinhas.
Que venha a temporada 2018-2019 de reprodução das tartarugas marinhas no Brasil com muitas fêmeas e tartaruguinhas, e nosso até logo para as baleias-jubarte e seus filhotes, em breve nos veremos novamente na Praia do Forte!
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